segunda-feira, dezembro 27

Sentimentalismo Barato

“Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria” Salmo 90:12

Dia,noite,dia,noite,dia,noite,di,oite,d,ite...dite!
14 anos.
Os dias passam devagar no quarto 302, eu sei disso. Quando eles terminam nem me dou conta, mas acrescento às minhas contas. É estranho que minha dor soe como sentimentalismo barato.
A enfermeira velha fechou a janela, sempre peço pra ela fazer no fim do turno. Tem lá seus 50 e tantos anos, uma cabeleira loira escorrida sobre os ombros, é feia. Na verdade já nem preciso mais pedir, ela atende a cada um dos meus pedidos zelosamente, como cuidadora fiel que se transformou ao longo destes tantos dias. 246. Daqui a pouco faço um ano.
Pra você o que define a alternância dos dias é a sucessão de astros no céu, pra mim é a sucessão de técnicas no meu quarto. Meu plantão preferido é o noturno par, eu gosto em especial da menina nova dos olhos negros como duas azeitonas gordas, dias desses ela me contrabandeou um chocolate, foi reprimida pelo médico mas fiz uma chantagem emocional com ele. O médico é um cara bacana, é novo e acabou de terminar a residência, tem um sotaque engraçado, tem horas que peço pra ele falar em espanhol comigo que entendo melhor que o portunhol dele, é argentino. Não gosto da assistente social e não entendo por quê ela acha que é psicóloga.
Passo as horas lendo, fazendo palavras cruzadas e circulando palavras de livros. Eu pego uma página e vou escolhendo algumas palavras até que façam um mínimo sentido, noite passada eu fiz um poema:
“Maravilhoso tempo que o sol estava no céu
Minutos,não muito
Duvido que qualquer coisa seja normal
Verdade ricocheteando na água, tudo é perdido e independente
Alguma coisa disso tudo é real?
Dentro de um sonho eu ficaria desapontado
Decidiu se arriscar”
(A Cabana, página 159)
Sento no corredor e ouço as conversas das pessoas, assim como faço com os livros eu junto pedaços das discussões e monto histórias, empoleiro simples desarranjos para tramar ações que provavelmente nunca existiram. Em alguma das semanas passadas a família do 307 trouxe um advogado aqui, eles queria que ele assinasse uma procuração. Ele não assinou, levantou de rompante e saiu gritando com todo mundo dizendo que ele ainda tava vivo, que ele é quem trabalhou pra comprar tudo que usavam e ainda tinha agüentar essa bandalheira. Patifaria! Ri bem do advogado arrumando o terno enquanto corria pelas escadas deixando cair os papéis que depois eu fui lá e recolhi pra fazer algum poema, mas essa linguagem chula dos tribunais não tem graça nenhuma. O 307 morreu.Eu passo mal toda hora.
A mulher do fim do corredor recebeu uma visita, era uma perua que disse que veio de longe só pra visitar ela, disse que tava nos EUA, que tinha passado numas cidades com nome engraçado. Não sei onde fica Pasadena, mas com certeza deve ser um lugar bem mais chato que Pasárgada. Ela sorriu sem graça ao me ver. A Dona Helena não gosta da mulher, mas chorou bastante, era a primeira visita em tempos. Acredite tem gente aqui que não recebe ninguém, passam meses e a pessoa fica ali morrendo sozinha.
Eu não, meus pais tão sempre aqui. Eu tenho dó deles, não sei se vou me recuperar mas tenho tempo, a vida toda. Eles não, passam o dia correndo atrás das ruas, usam roupas que não gostam, fazem coisas estranhas e nem mesmo mais se falam. Não sou eu que to doente, é o mundo. Assisti TV até tarde com meu pai, tava passando um show do Renato Teixeira, ele gosta, eu também, mas não falo isso pra ele, vai que ele acha que a gente se parece. De manhã minha mãe veio trazer o café da manhã, hoje é sábado e deixam eu comer alguma coisa um pouco melhor, pão com nuttela e Yakult. Tá, o Yakult não podia, mas eu tomei mesmo assim.
A noite foi ruim, dormi mal. Ando me sentindo meio fraco, hoje é aniversário da minha irmã, mas ela tá gripada e não vão trazer ela aqui. Liguei a webcam e conversei meia hora com a Bia, ela tá fazendo 9, ela me contou que tá lendo a Bíblia. Foi com 9 que me apaixonei por Eclesiastes. Acho que sou meio diferente mesmo, mas isso aqui não é autobiográfico. Pedi pra ela olhar uma estrela no céu, qualquer uma, e imaginar o quão longe ela tava, então disse pra ela sempre pensar em mim como uma estrela, eu vou continuar a brilhar.
Não quero visita hoje, quero gastar meu tempo com quem eu gosto. Já me sinto melhor, o médico falou que posso começar a pensar em alta. Amanhã faço um ano aqui dentro, a Sra Carolina do andar de cima já tem dois anos de casa, mas ela não se mexe, nem fala,nem olha,nem ouve. Eu faço tudo isso, e eu escrevo. Por pior que seja a escrita ela fica. Talvez alguém goste.
Terça feira eu vou embora. 372 dias. Festa de despedida, nunca tirar esse roupão foi tão feliz. Fazia tempo que não via meu pai chorar. Eu sobrevivo.
A vida lá fora é outra, mas contei os dias e vou continuar a contar.

terça-feira, dezembro 21

[OUTRO]Rascunho Aleatório

http://rascunhoaleatorio.blogspot.com/


o Cleber é um cara bacana

domingo, dezembro 19

Sobre a Igreja

Tem um templo bonito, com um pé direito alto, vitrais coloridos, bom sistema de som e uma boa gente. O púlpito é todo feito de madeira, a decoração montada pelas voluntárias não é bonita, mas ninguém tem coragem de comentar.

O pastor, decano da igreja e do ministério, conferencista, escritor, exemplo de vida. Faz tempo que não fala com Deus. Um dia disse que faz as pregações pensando em algum membro, pensa no que alguma pessoa precisa ouvir e tenta associar com algum versículo, nem sempre o versículo faz sentido. Tem as terças-feiras de folga, e não sabe o que fazer com ela, então pega o carro e fica dirigindo por ai, sem rumo. Treina a impostação de voz, é uma boa técnica quando fala alguma coisa sem sentido. Gosta de deixar as orações por escrito pra não errar na hora. Mas na verdade é um homem de Deus, é um cara que muitas vezes buscou a Deus sozinho, e sempre que encontrava repousava o coração nEle. Deixou-se perder em suas imperfeições, em sua humanidade.

Em um dos cantos tá aquele cara que conheceu Deus a menos de um ano, um amigo contou de um Jesus que o aceitava da forma como estava. Na primeira vez não queria ter ido lá, mas algo o levou, assistiu o culto, mal se continha dentro de si, tinha vontade de gritar pro mundo inteiro ouvir que finalmente se achara no meio de toda confusão. A família não entendeu, a namorada não entendeu, os amigos não entenderam. Todo mundo achou que tinha virado um chato. Os primeiros passeios pela Bíblia reveladores, cada versículo fazia sentido. Conseguia se ver em cada um dos personagens, num Davi pecador, na tristeza de Jeremias, em Pedro,Paulo,Ester. Mas agora, esse era o primeiro vento mais forte que enfrentava, e começou a ter dúvidas se tudo que havia feito estava certo, afinal já estava cansado de ouvir que tudo que fazia era coisa de novo convertido.

Ao seu lado aquele amigo que o tinha convidado pra ir ali. O amigo nunca contou pra ninguém, mas fazia tempo que não acreditava mais, se sentia bem ali, fazia parte do grupo, sempre tinha uma roda de conversas pra participar, volta e meia fazia o papel de guitarrista da banda, dizia não querer participar em definitivo por não ter tempo pra se dedicar (mentira, era por não gostar de mentir). Estar no palco era uma boa sensação passageira, mas sempre que pensava em alguma das músicas que estava cantando chorava. As meninas achavam lindo a forma como se entregava no louvor, mal sabiam que era só resignação.

Na primeira fileira o diácono mais antigo de lá, líder de célula, todos gostam de ouvir suas orações. Ouvi dizer que elas têm poder. Apruma-se todo ao tomar o microfone, texto decorado, deu um jeito de colocar a palavra nova que aprendera no meio das frases, pena que o “novel” não combinava com o “shofar” e com o “varão”. Na verdade é o especialista em “ir orar”, alguém perdeu o emprego?”vou orar por você”, a mãe tá doente? “vou orar por você”, não consegue ir no banheiro? “vou orar por você”. Em casos mais complicados faz até corrente de oração. Gosta do cargo de “orador” dali, faz ele se sentir importante.

O casal da última fila, eles não conseguem se olhar. Não é raiva, é vergonha mesmo. Cresceram dentro da igreja, ela até sabe a ordem dos livros da Bíblia de cor, ele é o “pastorzinho” dos adolescentes, um exemplo de filho. Quando se apaixonaram cumpriram o protocolo, conversaram com o líder e passaram três meses orando, por um instante foi cogitada até a corte, escolha da santidade. Namoravam já tem dois anos, a palavra casamento às vezes era ventilada, não era o plano agora. Ele não queria, mas aqueles olhos, aqueles beijos, aquela tarde sozinhos em casa. Ela não tava afim, mas a mão dele trazia uma sensação boa, uma olhada não tira pedaço. Rolou. Eles realmente se amavam, mas já há uma semana não se conseguia trocar uma palavra, e não tinham ninguém pra quem contar. E eles tinham medo que descobrissem.

A família perto da janela. A crise conjugal já dura o casamento todo. Na real uma família bem comum, o cara trabalha todo dia pra sustentar a casa, ela arranjou um subemprego pra saciar as vontades, ou pra poder usar sapatos tão caros quanto os das irmãs da reunião de terça à tarde. O filho mais novo, adotado, tá começando a brincar de se drogar. A outra filha tá na coreografia, mas ninguém a avisou que ela não tem jeito pra isso.

O vocalista da banda, um jovem comum nas noites de sábado.

O cara do som, já pensou em se matar.

Aquela de branco, realmente acredita em Deus.

O seminarista com tendências homossexuais, quanto desejo de mudar o mundo.

A professora da EBD, já mudou a vida de muitas crianças.

O pastor aposentado, um espelho para o meu futuro.

E eu?Eu to ai, em todas as cadeiras desse lugar. Cada um desses corações é meu coração, cada um desses intentos é meu desejo. Todos eus dali têm defeitos, e é por isso que eu consigo acreditar. Não passei por essas histórias, essas vidas não são minhas, mas todas as minhas me levam pra perto de um Deus que quer me usar da forma como eu sou. Defectível, santificado!
Não sou, nunca serei, um exemplo de fé. Sou sim alguém que quer Deus.
Minha igreja não é feita de santos, minha igreja é feita de gente de carne e osso, que pensa e repensa, reflete a obra que Deus fez em nós. Minha igreja é um lugar de gente que quer crescer, que sonha com o céu e muda a Terra. Imperfeitos, entregues ao Criador, somos moldados todos os dias.
A minha IGREJA é aquela da Bíblia, aquela sem uma placa na frente com a foto do pastor.É a Igreja em maiúsculo.

Erramos, e alguns erros não têm volta. Acertamos também. Algumas condições não vão mudar nunca. Mas Deus sabe de tudo isso. É Ele quem conhece meu ser tão profundamente, é ele quem esquadrinha meus pensamentos, é Ele que vê minhas lágrimas escondidas.

Pós-moderno demais pros religiosos. Religioso demais pro resto do mundo

sábado, dezembro 18

Manifesto da Simplicidade


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Eclesiastes 7:29:"Tudo que aprendi se resume nisto:Deus nos fez simples e direitos,mas nós complicamos tudo."
Eu to cansado.
Não aguento mais a superficialidade.Não aguento mais uma igreja social,não aguento relações expressas em vazio no lugar onde deveria haver a essência.
Vejo como Salomão,vejo que há MENOS coisa entre o céu e a terra do que supõe nossa filosofia.Eu já me cansei do Deus dos grandes eventos,das grandes festas,dos templos gigantes.Eu to cansado de ver meu Deus esquecido no meio dos nossos grandes planos de salvação!Eu to cansado do profissionalismo eclesiológico,do distanciamento pastoral,do esquecimento individual.
Eu já cansei de buscar Deus nos conhecimentos,nas discussões!Não é hora de saber se devemos ou não cortar o cabelo,não é hora de discutir as linguas.É hora de voltar ao leite,a comida sólida entalou na garganta.É hora de não entender o amor,é hora de viver o AMOR! Não é hora de crucificar os irmãos,a cruz já foi ocupada um dia,e hoje só o amor preenche ela!É hora de buscarmos a misericórdia divina,é hora de entender que o corpo tem suas falhas,mas a misericódia de Deus é o que nos liga.Eu to cansado de uma busca utópica pelo entendimento,se é Ele quem dá entendimento,busquemos a Ele!
Já nao quero os grandes legados, nem as grandes bases teológicas.Reconheço o esforço dos que estudaram,dos que receberam de Deus essas bases,mas é hora de nós rompermos com os conceitos pré-estabelecidos e buscarmos e redescobrirmos agora,juntos, esses conceitos.É um passo atrás!?talvez!Mas para andar pra frente as vezes é necessário parar um pouco.Nosso avanço não nos deixa mais próximos de Deus,está nos deixando mais perto do nosso ego.Nossa incrivel capacidade de complicar as coisas faz o que é bom ser usado da maneira errada.
É hora de voltar com sinceridade,é hora de dizer o que tá sentindo.Não é mais hora de fazer longas orações com palavras bonitas que refletem tradições,é hora das orações escondidas e humilhadas!É hora de se ajoelhar e buscar a Deus.Não é hora de fazer declarações de amor sem fé em musicas que mais parecem refletir um amor carnal,é hora de pedir fé!É hora de se fecharem as portas e se abrirem as bíblias!
É hora de buscar ao Deus puro e verdadeiro.É hora de virar os olhos pro altar.É hora de dar as mãos e caminhar.É hora de pedir pra ver com os olhos de Deus.Não é hora dos evangelismos de números,os números sempre sao pessoas esquecidas pela igreja!Os números têm nome!Os números têm rostos!Os números têm vid.É hora de anunciar que Deus ama as pessoas,é hora de amar as pessoas,amar como Deus ama!Isso é evangelizar,é demonstrar amor!Evangelizar não é uma multidão de joelhos no chão,e corações vazios!Não são gritos num púlpito que se esqueceu o que é vida!
É hora de voltar a simplicidade da plenitude de Deus!O Deus dos contrastes!Esse maravilhoso Deus anseia por nossa simplicidade!Pense,e pare de pensar!Viva o amor!Seja simples!


domingo, dezembro 12

Essa não tem nome

Café amargo, acaba com minhas manhãs. Chega um momento que eu nem sinto mais, engulo o líquido a seco, com pressa de que o dia que mal começou chegue ao fim antes de eu perceber, antes de acordar.

Abotoo a camisa sem nem passar, amarro a gravata com uma força que me faça desmaiar. Bato os sapatos com medo das aranhas, piso os cadarços fechados. Eu poderia ser alguém, eu poderia ser quem eu sei que sou, mas prefiro assim, fazer parte do que me aparta.

Minha cama diz adeus, no meio da bagunça em que a deixei se revira e dorme mais que eu. E eu durmo o dia todo. Música alta, antiga e aprovável. Eu prefiro ir andando nos dias de chuva, já falei várias vezes antes da minha predileção por dias nublados. Minhas gafas quebraram, melhor assim: não enxergar.

Lá as pessoas viraram letras e números, nunca as ouço, mas sempre olho suas contas, fechadas a dez vezes do meu salário. Não grito com ninguém, não brigo por não ter força pra isso, aceito compraz e gentil. Transijo a culpa dos outros por não ter ânimo pra arranca-tocos.

À vista de uma senhora muda eu discorro as necessidades de quem ganha com tudo isso, ela me olha com dó, e tá ali, no fim da vida. E eu que tenho a vida toda pra ganhar e só perco tempo? Eu não me sinto bem. Todo mundo já percebeu, mandaram falar com a assistente social, e eu falei de Frankl e Fromm pra ela, que gostou e disse que ia pesquisar mais sobre o assunto.

Aprendi a conhecer esses corredores, aprendi a andar pelos degraus que ninguém vai, aprendi a encarar os fantasmas sem medo, tem hora que até penso em chamar eles pra comer um misto-quente comigo no lanche da tarde, mas nem tenho tempo pra isso. 15 minutos, corridos do tempo que eu consigo. Odeio também os dias sem nada pra fazer, ai eu aproveito as pessoas, converso sem motivos, e de repente calo. É que bate o vento.

Vou embora, e penso em dormir.

Sexta Fileira

Que você quer ser?Quando crescer (ou não) o que você quer ser?

A

Sorria, pequena, que o mundo tá ao alcance das suas mãos. Abraça o mundo nos braços de uma criança.

Fique nas pontas dos pés e enxergue teu futuro, dance teus sonhos para chegar aonde Deus te quer.

C

Ah você, brinca com a razão dos números. Dê alguma graça a tudo isso e nos ensine a ver o Criador nisso tudo.

Vai em frente que a estrada tão longa se faz na sua frente, mas teu brilho ilumina.

Y

Não deixe de cantar tua vida, não deixe nada te tirar do caminho, que ele é todo teu. Junta tuas notas às do Pai, e deixa Ele te carregar um pouco.

É hora, de ser tudo que você tem que ser é agora. Faz dos teus sorrisos uma melodia e então siga nos passos da canção.

Só uma coisa só

Pense bem, e espera que o sol tá pra nascer. Quando chegar o dia a gente decide o que faz, quando brotar a luz a gente descobre que é feliz.

Era só uma briga, sem motivo nem fim, só mais uma discussão como todas as outras. Começa torpe por natureza, essencialmente vazia e desnecessária. Um vaso quebrado, um almoço mal feito, uma semana não falada, tudo é motivo é pra a guerra nascer, tudo são pontos distribuídos disformes, disléxicos. Brigas da gente.

A menina sempre dizia não gostar dessa parte, o cara sempre pensava não gostar de parte nenhuma. As flores de alguma forma machucavam, e nem era intenção de ninguém.

Dessa vez, com malas feitas via o mundo acabar aos pés da própria história. Não era protagonista dele mesmo, de repente a novela perdera a graça. As pautas são cartas marcadas, todos esperam o fim. Talvez, e só talvez, tenha chego.

Aos soluços juntava os cacos, o jarro d’água num canto da sala mostrava em pequenas imagens os dois tão diferentes, e ela nem lembrava quando foram um só, nem lembrava.

As histórias necessitam de um clímax, um ponto de tensão ao qual e sobre o qual se desenrola todo o enredo. Geralmente melhores momentos para isso são os de mudança, algo que em um segundo muda, e que é mudança recente de uma mudança gradual.

- Você fala que a gente não é o mesmo, você fala que a gente não tem jeito, você fala tanta coisa. Parece que nunca reparou que somos uma coisa só.

-A gente nunca quis ser uma coisa só.

-Acabou.

-Acaba quando a gente quiser.

-Ou quando a gente perceber.

-E se eu não quiser perceber?

Promessas: são proposições com um mínimo de perspectiva real de acontecimento. Esperança, aquela que acha que é possível.

-Te amo.

E ficam assim, juntos esperando ficar dia.

sexta-feira, novembro 19

Rio Machado

Não quero tudo,
apenas o bastante
Desejo o mundo,
e só um instante

Toda uma vida jogada,embora
não haja nada do outro lado
lá fora

Criança nascida na chuva,
o tempo da estação
Crescida nos rios de outra rua,
invernos do verão

A galhofa da vez eram duas tragédias,
aquela na ponte,cobrindo o coração
e a nova história,uma nova canção

sexta-feira, outubro 22

Tempo,pássaros e o carro

Um minuto é um pássaro pousado, olhando pra frente, passeando ao passo de alguma dança lenta. Os dias são uma ave de rapina com um vôo seguro e firme, rápido. Os anos são uma revoada, que se vai de acordo com o tempo, que das minhas mãos e logo está tão longe que nem posso mais enxergar.

Há alguns eu tinha uma coleção de medos, alguns normais como o escuro e a janela do quintal, outros nem tanto, e o maior deles era ser atropelado por um carro invisível. Sempre ao atravessar uma rua olhava pros dois lados, e depois de novo, mais alguma vez, em geral a sexta olhada era a de segurança, que permitia que eu avançasse, e logicamente era sempre o tempo do carro que estava na outra esquina chegar mais perto. Era melhor assim, eu gostava de enxergar o perigo que eu enfrentava, não que eu saísse correndo na frente de um automóvel, eu só queria atravessar a rua e não me matar.Porém o que eu sempre evitava mesmo era atravessar a rua vazia, vai que numa dessas fosse atingido pelo imprevisível carro sem imagem, e estatelado no chão não houvesse nem placa pra anotar. Parece loucura, e até é, mas é um medo, e como todo medo eu o respeitei.

Quando eu reviro os arquivos do meu computador eu tenho a impressão de que as coisas têm passado rápido, não é que eu me sinta um velho. Até sinto que sou novo demais, e é isto que de alguma forma me incapacita para tanta coisa que quero para o agora, mas consequentemente é o que possibilita que eu possa ainda ter chances de lutar por quase tudo o que almejo. Aliás, é bem engraçado ver alguém tão jovem falar que o tempo tem passado rápido demais, mas passa então eu falo. A semana demora uma eternidade, eu conto cada dia, cotidianamente ao abrir a porta do serviço penso nas seis horas de trabalho que tenho pela frente, em cada começo de aula de química fico sonhando que as 50 voltas do relógio voem. Mas só o que voa são os anos, já tenho me perdido em datas, confundindo há quanto tempo aconteceu algum encontro, e estranhando quando associo que algo que parece tão recente ocorreu tem 8 anos.

Eu não ligo que tudo passe rápido, até quero. E sei que é só quero agora que quero, enquanto penso no futuro, quando eu pensar no passado vou sentir que fui atingido pelo carro invisível. Sinto que sem notar eu mudei o calendário, que a minha agenda deste ano já não tem mais utilidade, e assim se vão os calendários e as agendas. A única diferença é que agora não tenho medo, só quero viver, se a vida reveza cada uma de suas fases como solistas, alguns mais brilhantes e outros desafinadamente esforçados, eu quero ouvir a todos, e tocar com eles.

quinta-feira, outubro 21

Um ou dois( Mais daquele lado)

Quero-quero, sol e horário de verão.
Fotos antigas, cortar o cabelo e Jorge Amado.
Química, polinômios,arroz requentado.
Professores, psicanálise, não saber tocar violão.
Acordar,areia e insetos.
Você.

Mar,céu e pizza de lombo com abacaxi.
Luz, música e frio.
Dormir, sonhar,viajar pelo Brasil.
Leminski, Drummond e Kolody.
Comer a comida da minha avó e,às vezes, ficar só.
Tomar um banho de chuva, na piscina ou no rio.
Rio Branco, Curitiba e Ji-Paraná.
Refrigerante de maçã, framboesa ou guaraná.
Assistir um filme e andar na XV num dia chuva.
Escrever sobre o que eu quiser, história e all star rasgado.
Palco, trombone e cabelo enrolado.
Você.

AM/FM

Essa guria tem um sorriso fácil, um jeito debochado, e algo muito parecido com meu passado.

E eu com isso?

Eu não tenho nada a ver com isso, ela é assim mesmo.

domingo, outubro 10

Pedaço

Deixei-te uma porção, um todo que sobrou do tanto que havia.
Deixei-te minha canção, uma parte do que em mim não cabia.

E fiz de ti alguns poemas, fiz pra ti uma história que não entendeu.
E te contei os meus dilemas, mas a nenhum você atendeu.

Com uma pedra na mão fiz um desenho, rabisquei no chão nomes inanimados, os dias nublados, e as nuvens ao lado. Fiz um sol saindo, suas cores nascendo, e eu retomando tudo em que não mais acreditava. Fiz um mar que nunca mergulhei, com ondas calmas, com pessoas sem um rei, contrastes.

sábado, outubro 2

tempo, mais-que-perfeito

Ela o amara, quando ele ainda gostava
E esperou,
Fez-se amor igual

Os sonhos que contara, enquanto ele olhava
E realizou,
Quando foi o final

Eram o que findara, esperando o que restava
Ela imaginou,
No que era mal

E tudo que sobrara, era amor que ele amava
E se juntou,
casal normal

sábado, setembro 25

coisas idiotas

Ela me olhou, séria e compenetrada. Depois de uma tarde inteira de risadas não era o que eu esperava. Tomei-me de susto quando começou a falar, disse que tinha algo muito sério pra me pedir. Então, num tom mais baixo começou a dizer as palavras que iam mudar toda minha história, mas eu ainda não sabia disso.
-Vamos fazer alguma coisa idiota juntos?
-Quê?
-Uma coisa idiota ué, vamos fazer!

Tentei conter o riso, afinal momentos antes ela havia dito que era uma coisa séria, vai saber se ela ia gostar que eu risse disso, na verdade ainda tinham várias facetas nessa menina que ainda me intrigavam, e quem sabe essa é só mais uma das várias nuances que eu ainda não conhecia, então para não a magoar contrai os lábios, mordendo-os com força para que não escapasse nenhum sopro desse gás hilariante que me preencheu. Porém ela quebrou o silêncio com um beliscão no meu braço e uma gargalhada rasgada, entretido com aquela figura estranha eu não me segurei e gargalhei junto.
Passado o primeiro momento então quis entender melhor a proposta dela, tentei entender onde ela queria chegar. Não tinha medo de fazer coisas idiotas, na verdade as faço naturalmente sem nenhum impulso desejoso para que ocorra esta possibilidade. Entretanto, era a primeira vez que alguém me propunha isso, era a primeira vez que alguém colocava a idiotice como uma alternativa, e não como meu natural caminho de sabotagem reflexiva. Parei um pouco, olhando aqueles olhos brilhando, como os de uma criança que pede um doce pra mãe, e tomando juízo para uma resposta sincera, como as que eu gostava de dar. Respondi que sim.

Depois de acertados, começamos a discutir os termos do acordo. Primeiro, o que era fazer uma coisa idiota, aliás, antes de pensar na ação eu preferia pensar na essência da palavra. Para mim idiota sempre foi um termo que expressava algo ruim, denotava na verdade estupidez, tolice, loucura. Para ela também, mas era diferente. Enquanto eu via nisso tudo uma vergonha, ela via uma ótima oportunidade de escapar do corpo que a prende, uma chance de poder passear nas nuvens dos pensamentos e mostrar quem era de verdade, era uma espécie de arte que gostava de praticar.

Há de se convir, para mim é bem mais difícil essa idéia de mostrar para os outros quem sou eu. É uma característica masculina procurar esconderijos, coldres em que possam esconder suas armas, seja ela esperança de um futuro bem melhor, seja a alegria que escondo no meu rosto sério, ou seja alguns amores impossíveis. Porém sei que é só quando eu ultrapasso minhas barreiras e alcanço a plenitude de uma experiência que não depende só de mim é que posso finalmente me completar. Bem, fazer uma coisa idiota com uma pessoa agradável era um bom começo pra isso tudo.
As personagens dessa trama são completamente diferentes entre si, talvez por isso mesmo que essa amizade tenha graça no meio de tantas amizades insossas. Haviam se conhecido alguns meses antes, e embora tenham se visto bastantes vezes nenhum dos dois teve nenhuma vontade de estabelecer o mínimo diálogo um com o outro. Acho engraçado notar como surgem os laços mais fortes, geralmente eles se constroem do nada, e de repente parece que estavam ali desde sempre. Num piscar de olhos a gente aprender guardar carinho por pessoas que pouco tempo antes eram meros estranhos, a gente começa a querer o bem dela, começa a se preocupar e agir como um pai zeloso, por vezes cuidando mais do outro do que de si mesmo. É engraçado notar como nossa felicidade parece começar a ser dependente, de outro sorriso, de outros passos, de outros abraços, de outro amigo.

Uma conversa desinteressada foram as primeiras palavras destes dois, uma conversa de fila de banco, falaram sobre alguns amigos em comum, e viram quem eram eles que tinham tanto a compartilhar um com o outro. Algumas tardes sucessivas de brincadeiras que pareciam nunca ter não existido, uma intimidade estranha para poder estabelecer zombarias que só se têm com quem se confia, escárnios que não feriam, mas provocavam risos. Então vieram as primeiras conversas sérias, discussões da forma como ele gostava, retirava dela todas suas certezas e fazia com que virassem dúvidas, dessa forma é que se fazem as verdadeiras convicções, quando eu penso sobre elas e retiro delas a aura de dogmas indiscutíveis. Eram profundamente sutis as conversas que surgiam dessa nova amizade.

A primeira vez em que ele a viu chorando não sabia o que fazer, gostava de conversar com pessoas que estavam triste, assim elas podiam expressar realmente o que pensavam, mas dessa vez era estranho, sentia que realmente precisava ajudar. Quem sabe isso poderia ser uma falha dele, nas mágoas dos outros se sentia bem, não por o outro estar mal, mas por saber que no meio de tanta falsidade e superficialidade era uma pessoa diferente, que se importava com o que os outros sentiam. Porém tinha receios de que as vezes toda essa preocupação pudesse parecer um tanto quanto forçada, aos olhos do mundo as pessoas não podem ser boas, quem não deseja passar a perna no próximo deve ser alguma espécie de ator mal treinado que na verdade só espera uma chance de se promover às custas de alguém fragilizado. Não, não tentava abrigar o mundo nos seus braços, na verdade as vezes se sentia na verdade com um egoísmo estranho, pois não se preocupava com todos, apenas com aqueles com que realmente se importava. Um desconhecido chorando muitas vezes não lhe causava nenhuma sensação de estranheza, mas ver uma pessoa amada fraquejando fazia com que se quebrassem todos seus pedaços e lhe dava força para ser um apoio.

Era essa a situação diante do choro da menina que conhecia fazia tão pouco tempo, mas que já havia aprendido a querer bem. Aproximou-se, pensou nas palavras que iria dizer, recapitulou tudo que sabia que deveria fazer nesse tipo de momento, porém quando chegou perto tudo o que fez foi um abraço, e assim disse tudo o que alguém precisa ouvir quando não está bem. Foi então que pode se dizer que estava fazendo o que deveria fazer. Foi assim que ele passou algumas horas ouvindo aquela menina, com suas queixas bastante aceitáveis sobre um mundo inóspito, sobre uma família desestruturada, sobre as esperanças dos outros sobre ela, sobre o peso que carregava nas costas e que já não agüentava mais sozinha. Num abraço ele prometeu que faria o seu melhor para levar um pouquinho desse peso, prometeu que sempre estaria com ela, e esteve.

Foi assim que se construiu a história do que há de mais valioso para nós: amizades. Pessoas que realmente querem que a gente cresça, pessoas sem as quais não vale a pena continuar, pessoas que nos momentos mais difíceis são espelhos para que possamos caminhar em direção ao alvo num objetivo comum. Muita gente passa por nós, poucas pessoas despertam nossa atenção, um ou outro vira nosso amigo. Porém é nossa responsabilidade saber aproveitar essas que podem nos ajudar, e é uma responsabilidade maior ainda saber que somos culpados pelas opções que elas fazem, e temos de ajudá-las para se aproximarem de Deus.

Era isso que ela estava sendo para mim, minha companheira de viagem. Nos momentos de dor era a primeira ligação que eu recebia, ela prometeu que estaria sempre comigo, seja em presença, seja por cartas, seja em fotos, em músicas, seja em oração. Ela estava sempre comigo. Nas horas de alegria era a primeira a pular no meu pescoço e mandar que eu pelo menos fingisse um sorriso. E estamos agora num momento que acho também ser de felicidade, depois de passarmos uma tarde andando por ai, comendo alguma coisa que não fazia bem, simulando diálogos mudos de terceiros. E agora a proposta, fazer uma coisa idiota juntos.

O que era fazer uma coisa idiota?Tentaram pensar em alguma idéia diferente, mas nada parecia suficientemente idiota, na verdade essa amizade já soa bastante idiota, como no sentido bom que ela descreveu detalhadamente para ele. Foram para o meio da praça, na tarde de um sábado agitado no centro, transeuntes passeavam disfarçadamente evitando qualquer desconhecido que desejasse entregar algum panfleto. Então fizeram a primeira coisa que pareceu idiota para o momento, pularam. Ninguém pula no meio dos outros, e causa estranheza para todo mundo alguém que pula. Imagine então duas pessoas pulando no meio de uma praça movimentada. Mas isso na pareceu idiota o suficiente.

Nos meses seguintes, tentaram outras coisas, a primeira foi semelhante à primeira tentativa, mas em vez de pulos, gritos. Só pareceram malucos, e ainda que essa fosse a idéia ainda não se convenceram. Quando tentaram correr acharam que ele era algum bandido perseguindo ela, não foi uma boa idéia. Aliás, as idéias foram acabando aos poucos, e ela mesmo que antes tinha feito a sugestão estava desanimada.

Foi só então que perceberam que já há quase um ano faziam a coisa mais idiota, mais louca, mais tola, mais estúpida de todas. Eles se amavam! E a história se fecharia perfeitamente se eles amassem um ao outro como irmãos, a amizade continua sendo o que tinham de mais precioso de um ao outro. Porém era mais que isso, era amor, desses que ele insistia em não acreditar, desses que não pareciam sair dos livros. Era ela que estava demolindo todas as convicções dele, agora acreditava que havia uma pessoa criada pra ele, e era ela. Na verdade eu mesmo preferia agora que as história fosse apenas de amizade, na verdade é!Por mais confuso que isso possa parecer, nunca deixariam de ser melhores amigos, ainda que amantes continuavam a ser apoio um ao outro, e eram casal amigo de tantos que precisaram, e caminhavam juntos em direção ao alvo, e choravam juntos, e aprendiam a se amar juntos.

Fizeram coisas idiotas.

quinta-feira, agosto 26

macaréu

O que existe é metade de mim, talvez perdida por ai.
Eu gosto de falar de amor, talvez por aceitar que alguns quebra-cabeças fiquem incompletos, assim sem nada demais, sem um motivo específico.
No mar vazio, no meio dos barulhos das ondas, com as gaivotas completando um cenário de foto turística, no meio de um coração de pedra, no meio disso tudo e nada.
Sendo visto por duas pessoas, sentadas ali da areia com os pés molhados e milhões de promessas. O oceano deslizava tranqüilo, imenso em si mesmo, completo por todas as partes, repleto de vida, mas faltando algo. Parecia não gostar nada do que assistia, sempre as mesmas coisas, os mesmos vôos dos albatrozes, os mesmos pescadores cedo, as mesmas pedras batendo nele, quem sabe um dia faria diferente.
Do outro lado um rio, correndo lívido, lépido e ao mesmo tempo, lento. Trazia em si o medo do novo, as lembranças do tempo de riacho, do nascimento, brotando de uma rocha cercada por flores, correndo rápido por meio da montanha, desviando das pedras, banhando as crianças, lavando as roupas das senhoras cantadoras do sertão. Um dia encontrou outros desses riachos, cada um com sua história, cada história com suas metades, e numa brincadeira de pega-pega correram juntos. Agora isso, nunca soubera em que parte do mundo chegaria, só sabia agora que estava chegando.
Quando a lua resolveu acordar era chegada a hora, os peixes nadavam contra a correnteza, com toda força lutavam pra sobreviver ao vasto oceano. As ondas cresceram de repente, um choque, algumas árvores derrubadas arrastadas pela corrente. Finalmente o encontro, num segundo dois, no outro um, num momento doce e sal, no outro simplesmente nós, sem definição alguma, alevinos dos dois jogados assim pra todos os lados, dançando juntos a primeira valsa matrimonial.
O oceano tão grande, tão autossuficiente agora precisava tanto de outras águas para ser feliz. Era feliz pois tinha toda essa parte que antes faltava. A água doce que tinha tanto medo agora repousava tranqüilo na sua maior metade, toda a incerteza fez desse encontro ainda maior. Quem diria, o oceano apaixonado?Quem ia prever, flúmen, feio e barrento, finalmente amando?
Algumas peças faltam em alguns quebra-cabeças, mas são tão poucos que prefiro falar das histórias completas.

cidade baixa

Quando eu quis mudar o mundo, quando eu achei que é possível fazer diferente.
Não tem nexo, não consigo aceitar que nós aceitemos tudo aquilo que incomoda assim, inertes.
Olhei da janela do carro, aqui dentro o clima controlado, uma música tocava, a trilha sonora perfeita pra minha hipocrisia. A cena não dura mais do que alguns segundos, assim como todas as vezes não me comove, é tudo sempre igual. Quando será possível entender que resignação é diferente de compaixão?
Do lado de fora um garoto correndo por entre os automóveis, quase atropelado, pés descalços, fome. Se eu tivesse alguma bolacha eu daria pra ele, e continuaria sem fazer diferença. A questão não está nas minhas ações, está no que eu realmente sinto quando vejo gente precisando de algo, sentir-me culpado não vai mudar a história de ninguém.
Nos outros carros cheio de gente vazias de tudo eu via uma parte daquilo que tento mudar. O que eu vejo? Nada mais do que pessoas apressadas, pra ir trabalhar, pra ir pra casa, pra ir pra igreja. Enquanto eu canto, o mundo morre.

domingo, agosto 8

Você e a lua

Em alguns momentos eu preciso entender o motivo de algumas coisas nunca mudarem, e mesmo que eu pense não dá pra entrar na minha cabeça o que se passa por trás do que não está ao meu alcance. Algumas coisas nunca mudam, eu e meu jeito de ser, você e seu jeito de olhar, o nosso jeito de amar, nossas brigas, nossos amores, essa tatuagem no meu peito, meu lado esquerdo e seu direito, na mesa todas as flores. Há coisas que simplesmente são iguais, mesmo que pareçam diferentes, a lua.
Num dia parece gigante, noutro tão pequena, tem vezes de dia, e muitas a noite, quem sabe perto ou longe? E eu nem tinha olhado pra ela. Sabe, por mais que eu ande de cabeça pra baixo, torcendo pra não ser reconhecido eu sei que ela continua no mesmo lugar e reflete sua luz em mim.
A distância distorce tanta coisa, muda a imagem e nos deixa tão confusos. O que parece aqui do lado na verdade é inimaginavelmente além daqui, e inverso. Mas apesar de tudo, ela está lá, transparente como um véu, bonita como uma foto na prateleira da sala, e imensa como nós, desprezíveis por nós mesmos.
Não sei até que ponto viajaremos, companhia de viagem, eu só quero viajar nessa astronave gigante, e pousar com você.

domingo, agosto 1

esboços (d)e conceitos

Mantendo os olhos fitos no lugar em que quero chegar eu sigo.
Com tanta coisa pra falar e pensar é difícil permanecer focado, mas quanto mais eu olho as coisas daqui mais eu quero andar, mais eu quero chegar lá!
Durante algum tempo eu troquei meus sonhos por objetivos. Se antes pensava em mudar o mundo, no momento eu só queria ganhar meu mundo, e acho que a questão está quase que justamente nisso, num certo egoísmo continuamos a andar como se não existisse o outro, mas o outro não existindo eu também não existo. Não está em mim a possibilidade de ser completo. Mas há algo mais essencial.
As palavras sobre busca de sentido carregam em si toda uma história pregressa que no fim das contas tira o sentido sobre a própria frase, mas a questão de sentido é a essência de toda busca, e toda busca só termina da Essência. É impossível ser completo por si só, é necessário que algo te ligue a alguma coisa maior, e as pessoas são a melhor dimensão mais simplificada dessa ligação. Se o outro não me enxergar em relação ao mundo eu simplesmente deixo de ser eu, ou não. A negativa diz respeito a algo maior que nossa visão, diz respeito a minha ligação maior que é com o Criador.
Até mesmo uma busca por dinheiro pode ser algo que te faça transcender, porém uma mudança de mercado acabaria com o sentido da sua vida. Uma grande amizade ou uma paixão são ótimas, mas nem sempre resistem a ventos que sopram durante toda nossa jornada. Entre tantas outras coisas que são bastante uteis nessa caminhada toda, a se pensar na arte por exemplo, nenhuma diz tanto respeito ao ponto que falo quanto o amor. Amor só é amor se vier de Deus, e por isso mesmo é um elo perfeito entre o eu, o você e o próprio Deus.
Bem, então minhas relações aqui têm muita influência na eternidade. Aliás, são expressão de todo esse conceito de eternidade, que não pode se limitar a dimensão de tempo, eternidade é muito mais do que isso, é plenitude. Não posso deixar que o que acontece aqui me desvie do meu alvo, que é estar com meu Deus. Isso tudo é algo do tipo otimista de se pensar, o que está errado nas minhas relações verticais eu tenho que trabalhar, e mais do que isso orar, para que Ele me ajude a que tudo aqui seja analogia dos planos que Ele têm.
De tudo, tenho que criar sobre mim mesmo uma imagem real, de alguém com suas vicissitudes e defeitos, e que por isso mesmo cria em toda a história de Deus uma beleza indescritível. Ser imperfeito e mesmo assim ter direto a escolhas é que possibilita que a fé seja acima de tudo uma forma de amor real e eterno. E ser a minha escolha.

OVNI

No lado de fora um invasor, um objeto não identificado voando, objeto voador não identificado.
Ela correu, ainda sem saber o que fazer, gritou a todo pulmões advertências àquela coisa vermelha e arredondada. A coisa pareceu não se importar, voava tranquilamente como se voa sem instrumentos, se o vento ia pra lá ela ia também, e pra cá. Num momento uma escolha que poderia representar tanta coisa, viver e deixar viver, ai é que estava a grande questão, qual decisão representava melhor opção de vida? Um ataque impensado e precipitado arruinaria qualquer chance mesmo que ínfima de derrotar o objeto, mas dar tempo parar que o invasor se estruturasse também significaria uma derrota.
Num momento o pouso, suave como uma pena, suave como tanta coisa que a gente faz questão de esquecer. Agora era a hora de decidir, o quê fazer? Um invasor no quintal de casa, correr pra buscar reforços parecia uma boa opção, foi o que fez.


Então eu fui até o quintal ver o motivo de a cachorra não parar de latir, estourei a bexiga que tinha vindo da festa no vizinho e voltei a dormir.

sexta-feira, julho 30

reciclável

Ela e janela
Dor e amor
Paixão, razão,emoção e coração
Luz e Cruz,Jesus!

capítulo 1

Toda personagem tem sua história. Toda história tem suas personagens.
Eu vi um casal discutindo no ponto de ônibus, não é aquela história de anos atrás, é só mais uma noite qualquer, mais uma volta pra casa. Ela não tinha mais que uma altura mediana, ele alto, ela tinha uma tatuagem no braço, ele uma costeleta fora de moda, eles tinham um ao outro. Enquanto a menina gesticulava agitadamente ele mais observava, parecia pensar no que fazer, então numa palavra quebrou toda e qualquer argumentação. Ela olhou pra cima, sorriu e emendou um abraço rasgado. Pra mim era o fim do enredo, sem ao menos ter ouvido uma palavra.
Ninguém escreve nada sozinho, num contexto geral ouvimos tanta coisa que isso é o que vamos acabar escrevendo. Vivência é só mais uma palavra rara que usamos todo dia, não falando. Você já reparou que minhas páginas amareladas são as suas brancas, que tudo que rasguei de mim você escreveu? Você reparou que no fim de tudo isso temos os mesmo pontos, mesmas reticências?
...

sábado, julho 24

volta

Não me acostumo em andar no escuro
teu rosto reluz
Não penso em ser metade,
existe a cruz

Eu faço minha volta,
Eu tenho um lar,
Eu faço do meu caminho
O lugar em que tu está.

arca

De tudo que eu queria que virasse verdade você é o maior.
Eu queria e precisava ficar só um tempo, achei um lugar longe, subi algumas escadas e fiquei ali olhando praquele lugar. Em cada canto do campo uma pessoa,algumas juntas, outras não. Qual era o real significado daquele momento?
Em minhas mãos um livro pequeno, em minha cabeça um mundo inteiro, novas idéias e metas, em mim um novo eu. Era tão difícil explicar, como será que é um cego que vê pela primeira vez? Antes as cores eram alguma ilusão sem sentido e agora tão nítidas, quase palpáveis. Antes a vida era alguma ilusão, e agora tão real.
Sempre imaginei esse momento como uma estrada, terra e poeira como as da minha infância. Escolhi um lado e caminhei, primeiros passos lentos e trôpegos, primeiras dúvidas. O crescimento só existe quando saio das minhas certezas, desequilíbrio. Copas tapam o sol, não dá pra ver nada, eu só ando. Se andar é o que me faz chegar mais perto do que quero, eu ando.

sexta-feira, julho 23

tem seu fim

Essa música combina tanto comigo que nem gosto de ouvir.
Quando eu tirei os óculos não pensei que eu veria um mundo tão diferente, porém foi meu jeito de brincar de ser feliz. Cada dia é uma nova descoberta, de uma forma tão intensa que me descubro livre, posso escolher o que ser, do que gostar e posso escolher gostar de ser algo ou mesmo alguém.
O sol sempre morre, quando enegrece o céu sabemos de quase tudo que queríamos saber.
Pensando bem eu nunca realmente achei que era verdade, mas é tudo tão confuso, tão confuso quanto isso aqui. Em fevereiro, março talvez, eu sempre viajei, e gostava de ver a cidade ficando pra trás, gostava mais ainda quando chovia, chuva sempre me pareceu com despedidas, era o clima dos momentos. Todo ano era igual, uma curva completa semestral, e no fim eu acho que na verdade nada nunca mudara.

quinta-feira, julho 15

confábulo

-bem, sabíamos que hora ou outra isso ia ter de mudar.
-mas não assim
-as coisas não precisam ter forma, só mensagem
-pra você as coisas sempre são assim
-assim como?
-você sempre achou que arte tem que objetivar alguma coisa
-mas eu nem estou falando de arte, só de vida
-você já reparou que algumas mudanças não influenciam tanto assim no contexto geral
-discordo
-você sempre discorda
-mas é que nesse caso não como concordar
-não?
-Não!somos mudança, sabe a história do rio?
-Da viagem?
-Não esse Rio, aquela história do rio, que tá sempre passando
-um mesmo rio não passa duas vezes no mesmo lugar?
-isso
-essa frase não é sua né?
-não, mas como eu dizia,hoje eu faço escolhas, essas escolhas mudam o cenário pra que eu faça as escolhas amanhã
-sabe, na verdade eu não vejo o rio nisso
-mesmo que nós estejamos nos mesmos plano de fundo a imagem vai ser diferente
-você gosta de complicar as coisas
-lembra dos nossos amigos antigos, se a gente se encontrasse com eles hoje e tentasse manter o mesmo convívio de anos atrás a gente não ia conseguir
-todos nós somos outros
-ai que tá a mudança, toda essa dinâmica é o que nos faz hoje
-e se eu decido não mudar?
-bem, ai é uma escolha sua
-e ai?
-E ai que você vai mudar mesmo assim, não tem como ficar estático, você vai continuar recebendo informações e dialogando com elas, criando uma nova você
-As vezes eu penso que mesmo mudando,algumas coisas não mudam nunca
-O quê?
-Nós
-Eu acho que a gente mudou bastante
-Mas juntos
-Sim, é como se fossemos duas estradas com as mesmas curvas,somos diferentes,mas estamos ficando cada vez mais iguais
-Você adora criar imagens pra tudo né?
-Mas olha, é isso mesmo da estrada, e mais, somos estradas que terminam no mesmo lugar
-Numa praia?
-A que você quiser
-se você vai tá lá pode ser qualquer uma né
-Você vai estar,isso que conta
-A gente complica tudo né
-É estranho
-O que?
-Não é que a gente complica,é que juntos o que é bem simples pode durar pra sempre que eu vou tá bem
-Até uma conversa sobre mudanças?
-Principalmente uma conversa sobre mudanças.

Então Gabriela desceu da escada que João segurava enquanto ela mudava o quadro da sala.

terça-feira, julho 13

danças

continuar

Sambei contigo tantas notas assim
Já faz quase ou mais de ano que a dor nos fez um
Passei tantas horas sozinho ao seu lado
E amor foi bem mais do que era antes

O silencio é o que toca agora
O telefone nao toca mais
As tardes sao sem voce
E eu gosto assim.

Mas só vim aqui pra dizer adeus

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mesa pra dois

A gente é só mais um,essa história de um ponto só
Eu nao quis assim,mas a distancia nos faz
Era pra ser assim,e a gente sabe tudo que precisava saber
Liguei pra voce e nao atendeu
Ocupado com meu tédio eu nao quis

E agora que será?
O futuro dança na nossa frente
Um baile a dois?
Quem saberia ser.

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textos antigos de todas postagens de hoje,creio que 2007,2008.

luta

Não és forte?Cansastes de brincar com teus medos?
É,a gente foge de tudo.É a gente que se faz de mudo.E a gente que nem ao menos sabemos ser quem somos.
Brincadeiras a parte,é só uma brincadeira de fingir.
Meu esconde-esconde,escondo minha vida.

estas e outras dessas

80 Motivos



Sem motivo procurei achar seus motivos, quis um deus que minha razão ocupasse meus ares de emoção, e quis que meu choro esperasse.A volta não existe num caminho de mão única,andar na contramão sempre dói muito mais,e minhas tentativas frustradas foram o empirismo nesse horizonte coberto por nuvens e descoberto distante. Transformastes minha alegria numa caixa esquecida na estante caindo aos poucos, os motivos se escondem com medo de morrer, e agora nem amizade restou e nosso sangue é tão diferente. Agora resta só meu sangue, bombeado com a força desse vendaval. Agora meu pulso lembra a cada momento que o passado sempre volta pra nós.

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Anjo



Fez-se vergonha,fruto da inocência operante no coração.Não que arrependimento fosse sua palavra,decepção talvez o fosse,ou quem sabe o desprezo de ter fingido pra si mesmo uma nova história de vida,fingia um futuro,sorria o presente e ignorava o passado ausente,e muito embora todos os fatos lhe apontassem que o caminho não era o seu,seguiu.Ao ignorar as placas tão presentes em suas neocorticais não chorava,nem ao menos esboçava reação,afinal não reagiu mesmo que todos seus atos fossem simplesmente mal-acompanhados.Mesmo que cada mão estendida não recebesse muito.
Até mesmo chegou a sonhar.Pobre anjo,mal sabe que anjos não sonham!

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adeus

só hoje eu percebi...aquela vida já passou tem muito tempo,e durante todo esse tempo eu continuei vivendo ela...os mesmos sonhos,os mesmos passos,as mesmas pessoas,os mesmos erros.Hoje eu posso dizer que consertei muitas das minhas escolhas erradas, e talvez tenha até me perdoado por não ser a pessoa que achava ser.Só hoje eu percebi que eram outros meus defeitos,percebi que continuei no passado,e quem sabe no dia que eu viver o presente, e até o futuro, eu possa calar essa solidão,hoje eu não sei "quando foi que eu deixei o silencio tomar conta de mim",mas pelo menos sei que quem deixou foi eu mesmo.

tento viver

domingo, julho 11

Todos meus dias

Estava começando a anoitecer, ela ainda não havia falado nada. O círculo que a cercava aumentara no decorrer dessas três horas, as palavras continuavam mudas. Eu tinha certeza de que ela queria dividir com todos a dor, mas ainda não conseguia. Quando o sol finalmente dormiu, num fim de tarde de verão, ela abaixou a cabeça e chorou. O clima não era um dia chuvoso e triste como nos filmes, ao contrário, era uma noite de calor, dessas que o vento convida a gente pra passear na praia e sentar pra ver a lua. Parecia óbvio que o dia dela não combinava com nada disso. Você não sabe que tudo vai acabar bem?

Eram três da tarde quando me ligaram, ele preferiu não ligar pra família e pediu pra mim. Nunca entendi muito bem, mas de vez em quando acham que sou uma pessoa melhor pra esse tipo de coisa, eu liguei.

-Alô, boa tarde, a Sra. Camila?( boa tarde?boa tarde?)
- Sou eu, quem é? (como se ela já não imaginasse)
- É do hospital, você poderia vir até aqui? ( não era preciso dizer mais nada)
- O quê aconteceu? (ela já sabia)
- Só me pediram pra eu chamar a família no hospital ( por favor, não me obrigue a falar mais nada)
-...( ela não conseguia falar mais nada)

Avisei o segurança pra deixá-los entrar, foi o que aconteceu quando ela veio correndo e passou sem nem dizer palavra alguma. Era alta, na verdade era bonita, mas não era o tipo de coisa que eu ia reparar naquela hora. Pode parecer bobeira, até certa imaturidade, mas algumas vezes essas coisas são doloridas pra gente também. Ela não podia ainda entrar na UTI, eu tive que entrar, e enquanto digitava a senha ela me olhou, eu desviei, quando sai carregando a papelada ela ainda estava ali. Não me deixe pra baixo.

Eu tinha bastante coisa para fazer, mesmo pra um domingo. Com algumas guias nas mãos tentei me distrair, liguei pra um ou dois convênios, resolvi um ou dois problemas que não eram meus e quando já estava quase alheio vi a porta abrindo. Ela não estava só, haviam chegado pais, irmãos, primos, amigos, se não me engano 17 pessoas desceram até o saguão principal, 16 choravam, ela não. Deixa estar.

Durante todo esse tempo ela só olhava para cima, algumas vezes pra baixo, balbuciava algumas coisas, olhava pro brilho em sua mão direita. Uma hora uma das pessoas se ajoelhou na frente dela, alguns segundos se passaram só com olhares, então um abraço, forte, demorado, doloroso. Como será que é ver alguns sonhos simplesmente não mais existirem?
Ela tem 27, ele tinha 28. Ela tem uma vida pela frente, ele tinha leucemia. Fizeram alguns planos juntos, descobriram que era melhor planejar a vida assim, a dois. Viajaram, descobriram tanta coisa quando se descobriram, mas agora era tudo tão escuro. Todos os versos que haviam sido seu cotidiano até ali não iam mais estar. Sabe, eu sempre achei que as pessoas não morriam, por um tempo duvidei de mim mesmo, mas hoje eu tenho certeza disso, por mais que ela não possa mais abraça-lo ele vai estar ali. Não falo de presença sobrenatural, simplesmente de marcas, palavras e canções, ainda que a vida siga adiante ela ainda vai lembrar dele e de como ele a fez crescer quando olhar aquelas fotos antigas, ela ainda vai recitar o poema que ele fez num dia qualquer no parque, ela vai cantar as músicas que ele gostava e de repente pegar uma música triste e torna-la melhor.
Mesmo que não possa mais segurar na mão dele, ele vai estar com ela através de tudo o que ensinou. Foi por isso que ela chorou, era estranho mas ela estava feliz e agradecida, mesmo com toda dor era impossível não pensar que viveu um amor real. A vida vai ter novas histórias pra ela, algumas alegres, outras tristes que também fazem parte, mas sempre haverá um marca-páginas nesse capítulo.
Era noite, mas ai vem o sol.

quinta-feira, julho 8

praia do forte

...se não for pra ser diferente era melhor nem ter tentado.

Ele contou os passos, e nem percebeu que o tempo estava passando. Sem querer parou pra pensar em algo que não pensava a muito tempo,ele mesmo. Definitivamente não se sentia bem sendo quem era hoje.
Sentou. Ao fundo passava um navio, nada belo. Mas reparou bem na paisagem, não era deserta, volta e meia passava um andante mas nada importavam pra paisagem.Era fim da tarde,não podia ficar muito ali,estava a alguns quilômetros de casa e a noite já vinha chegando,mas algo o prendia naquele lugar, alguma espécie de sensação de eternidade, era como se nada mais importasse.
Era estranho pensar que só podia estar naquele momento sendo completo pois não estava pensando apenas nele.Chorou.Quanto tempo não chorava?Quanto tempo não sentia nada?
Tempos atrás tinha resolvido não pensar, só viver.Fechou os olhos e sentiu o vento bater, acelerou o carro, mudou de hábitos, mudou seu jeito de ser, e deixou de ser ele. Na verdade sempre se sentiu meio preso, sabia que ali não era o seu lugar, então tentou voar, subiu algumas escadas, se sentiu alto e então abriu os braços. Não voou. Andou mais, achou um mirante, de lá olhou o futuro. Mesmo assim continuou a não voar. Continuou de olhos fechados e tentou dar passos assim mesmo, perplexo viu que as feridas antigas doíam mais ainda que antes, continuou.
Hoje só estava ali, só. Quis andar e andou demais. Percebeu que não estava só. Olhou o céu, olhou o mar, olhou em seus olhos e viu mais. Falou com o pai, haviam passados muitas estações desde a última vez, ajoelhou-se e gritou. Algumas gaivotas voaram, mas não pra longe, chegaram mais perto como se quisessem que ele visse ainda mais. Abriu os olhos. Olhou o céu,olhou o mar, olhou em si mesmo a obra de Deus.Então viu a chuva passar.
Voltou caminhando, olhou os passos no chão, lembrou de uma velha história que agora fez muito sentido. Só havia encontrado sua essência pois estava se ligando ao que estava fora de si mesmo, era como se o criador do mundo fosse o mesmo criador dele mesmo.Era.
Correu, molhou os pés, abriu os braços, chorou de novo. Viu de longe a movimentação da praia,cada vez mais se esvaziando. Viu de perto seu coração, cada vez mais cheio e pensou que estava voltando. Voltando a ser ele mesmo.

terça-feira, junho 15

Arnaldo Antunes

Não sei escrever,quem sabe um dia.
isso aqui é só poesia



baseado na FAOT

segunda-feira, junho 14

sábado

tentei esquecer do que havia pra esquecer.Pensei em Tempos Modernos,a música.
Enquanto tentava ver um futuro mais tranquilo não me arrependi do passado.Acreditar faz parte,deixar de acreditar também.Amar,amor, é mais que tudo isso.
"Eu quero crer no amor numa boa"
Se for pra ser vai ser, sendo você ou não: será!
Se eu preferir ficar só assim vai ser, e não vai ser por ser você.

As vezes eu danço sozinho,as vezes com muita gente junta.Mas é sempre a mesma dança.E me divirto assim.

São tantas pessoas pra uma só, que preferi ficar aqui.

e você nem percebeu.Foi bom.

a gente não precisa fingir ser mais do que é,nem muito menos ser menos.
só precisa ser.

na reitoria,samba curitibano

Ele desceu com pressa as velhas e cadentes rampas daquele prédio velho e decadente,o elevador do qual tanto tinha medo havia parado no andar errado e agora era preciso andar pois havia perdido o tempo.Nas costas a mesma bolsa de anos antes,ela havia resistido a tantos sonhos expressos em alguns poemas mal-escritos carregados em seus inúmeros bolsos e compartimentos.Todos os remendos eram ignorados e se por acaso rasgassem sabiam que seriam mais uma vez remendados,remendos, remendados pela milésima vez.Tinha no pé um all-star velho,nas pernas uma calça jeans azul claro rasgada ocasionalmente nos joelhos,calças que guardavam lembranças do que era ter uma barra bem feita.Uma camisa preta,um óculos quebrado,um brinco e a tatuagem de um desenho de Poty.Tinha mais na cabeça que um cabelo bagunçado dessa onda démodé,tinha idéias e a vontade de consertar tudo isso aqui.Tinha apenas o desejo de ser feliz assim,sem precisar mostrar os dentes a qualquer desconhecido. Bobagem julgá-lo um vampiro, seus passeios noturnos e perigosos por uma XV pouco turística eram só um passatempo e a forma de se sentir mais ainda filho desse chão de petit pavé adornado de alvinegras panacéias paranistas.

Seu pavimento era chegado,seu tempo apertado.Fez da corrida seu passatempo forçado,não corria desde...desde...desde não sei, talvez até mesmo desde algum passeio dominical no Barigui,passeio perdido em algum lugar do tempo num passado nada recente.Correu,mas agora estava em um lugar seguro,no meio daquelas poeiras emparedadas podia ver e sentir.Dirigiu-se ao guichê, e ainda de longe reparou que havia ali uma silhueta desconhecida,não havia a idosa e simpática bibliotecária com cara de tartaruga com a qual sempre se acostumara.Ao chegar mais perto ressaltou a idéia de que não havia ali nenhuma tartaruga,havia ali uma bela flor parecida com tantas flores que já havia visto,especialmente nos passeios pelo Tanguá ou pelo Botânico,porém esta era especial,esta era uma orquídea colorida,aquela era a flor que coloriria de cores quentes os azuis de sua bela vida.Bela vida?De repente acordou,que sonho era este?Havia se perdido nos olhos e cabelos de uma bela desconhecida,mas quantas belas já havia visto antes?Quanta insensatez chamar de paixão isso que sentiu pela primeira vez,pensava,mas também pensava:mas quem é que falou em paixão?

Pegou as chaves do guarda-volumes e arremessou calmamente sua mochila pra dentro daquele cubículo,ainda sem prestar atenção em nada trancou a portinha.Saiu a procura de algum Machado de Assis pra poder reler no fim-de-semana,quem sabe sobraria tempo entre os estudos pras suas finais.Resignado tirou o livro de Lingüística do armário e olhou ao fundo as pétalas,sépalas e corola de sua flor.Sabia que iria ter que andar de novo até lá,e no caminho foi pensando nas inúmeras declarações de amor que poderia fazer,é claro que não faria nenhuma,afinal era uma mera estranha, o fato de sonhar ter ela pelo resto da vida não tira dela o mérito de ser uma mera estranha,e quem sabe um dia isso há de mudar!

Passou direto ao guarda-volumes,e desta vez deixou cair pelos cantos um olhar para ela,gabou-se de estar tomando mais um passo rumo ao seu futuro.Pera ai,porque estava pensando desse jeito?Com quantas meninas já havia ficado antes?Não era nenhum mulherengo,mas nunca recusou trocar conversas numa noite no Largo da Ordem,já havia transformado amigas em namoradas e agora estava se gabando de ter desviado o olhar para a nova bibliotecária?E além do mais, sabia que os olhos só a miraram pois esta estava entretida com algum livro velho e nem havia percebido seu tal passo rumo ao futuro.Tentou se conter,não sabia o que estava acontecendo em seus pensamentos enquanto tirou a acabada mochila verde do armário.

Era a hora,não estava apaixonado!Ou estava? Logo era só devolver as chaves e entregar os livros para a flor,digo, para a bibliotecária.E o fez,o tempo todo desviava seu foco,tentou pensar no Atletiba do domingo mas lembrou que era paranista,estava confuso e isso não poderia negar.Ao receber o livro já devidamente registrado tomou o fôlego necessário,levantou a cabeça e encarou aqueles olhos oblíquos de cigana dissimulada e abaixou de novo a cabeça pois estava rubro de vergonha,sentiu em suas mãos o toque macio da branqueza da pele amada,toque provocado pelo provável acaso entre o entregar e o pegar o Machado.Assinou rapidamente seu nome,e num ato desesperado de hombridade levantou a cabeça e sorriu,disse “obrigado” e viu surgir de canto de boca um sorriso tão desajeitado quanto o seu.Sentiu-se bem mais feliz.

Ele desceu calmamente a rampa da reitoria enquanto sorria aberto todos que passavam pela estreiteza daquele sobe e desce.Quase tropeçou algumas vezes distraído e com uma cara de bobo alegre.Nada importava agora que havia encontrado o grande amor da sua vida,e poderia nem mais a vê-la.E afinal até mesmo a declaração de amor havia feito.Já ela,bem...ela voltou ao seu livro,não
sem antes ficar pensando naquele moço desajeitado,ele tinha lá seu charme.

Da janela do restaurante no centro

"Hoje eu te vi, vi seu sorriso espaçoso com sua multicolorida personalidade cambiando matizes de seus cabelos negros,loiros,tudo.
Hoje pensei recomeçar nossos poemas,mas escrevi tudo de lápis e esqueci meu caderno no canto, apaguei e joguei longe, não no canto onde eu poderia tentar lê-los novamente e sim no ponto cego do que sinto.
Hoje não te abracei, e nem acreditei que poderia.Hoje não ouvi sua voz,e nem ao menos procissão fiz,não dancei meu jeito dos seus sonhos.Hoje não enxuguei seu rosto molhado.Hoje te vi e não achei que veria.Hoje não ficamos a sós, já que nem minhas promessas quis, e nem ao menos viu olhos tristonhos.Hoje eu fiquei de lado.
"


pontuação errada

outro mundo

Por volta dos 12.Na época de tanta coisa que acontecia ao mesmo tempo eu fiz um blog chamado Mundo Zelan, nem me lembro bem o que eu postava,mas te garanto que não era algo muito bom não.Uma vez até achei ele de novo, só lembro de um post,quase um diário, mas a se destacar que era sobre o "A Vida não é Droga".Esse blog é totalmente oposto,só vou postar alguns textos desconexos e antigos,talvez alguns novos.E nem sei mais se acredito tanto assim que "A Vida não é Droga"
Tive outros blogs,flogs.Todos muito ruins, e nenhum sozinho.
Esse só vai ser diferente deles por ser sozinho.

Tenho lido pouco,e trabalhado muito.Isso é uma boa desculpa para textos desconexos e um pouco descontrolados.

Dificilmente farei um texto opinando sobre algo.

Não devo falar diretamente com ninguém,mas é dificil pensar num texto em que eu não esteja pensando em ninguém na hora de escrever.

é isso.