quinta-feira, julho 8

praia do forte

...se não for pra ser diferente era melhor nem ter tentado.

Ele contou os passos, e nem percebeu que o tempo estava passando. Sem querer parou pra pensar em algo que não pensava a muito tempo,ele mesmo. Definitivamente não se sentia bem sendo quem era hoje.
Sentou. Ao fundo passava um navio, nada belo. Mas reparou bem na paisagem, não era deserta, volta e meia passava um andante mas nada importavam pra paisagem.Era fim da tarde,não podia ficar muito ali,estava a alguns quilômetros de casa e a noite já vinha chegando,mas algo o prendia naquele lugar, alguma espécie de sensação de eternidade, era como se nada mais importasse.
Era estranho pensar que só podia estar naquele momento sendo completo pois não estava pensando apenas nele.Chorou.Quanto tempo não chorava?Quanto tempo não sentia nada?
Tempos atrás tinha resolvido não pensar, só viver.Fechou os olhos e sentiu o vento bater, acelerou o carro, mudou de hábitos, mudou seu jeito de ser, e deixou de ser ele. Na verdade sempre se sentiu meio preso, sabia que ali não era o seu lugar, então tentou voar, subiu algumas escadas, se sentiu alto e então abriu os braços. Não voou. Andou mais, achou um mirante, de lá olhou o futuro. Mesmo assim continuou a não voar. Continuou de olhos fechados e tentou dar passos assim mesmo, perplexo viu que as feridas antigas doíam mais ainda que antes, continuou.
Hoje só estava ali, só. Quis andar e andou demais. Percebeu que não estava só. Olhou o céu, olhou o mar, olhou em seus olhos e viu mais. Falou com o pai, haviam passados muitas estações desde a última vez, ajoelhou-se e gritou. Algumas gaivotas voaram, mas não pra longe, chegaram mais perto como se quisessem que ele visse ainda mais. Abriu os olhos. Olhou o céu,olhou o mar, olhou em si mesmo a obra de Deus.Então viu a chuva passar.
Voltou caminhando, olhou os passos no chão, lembrou de uma velha história que agora fez muito sentido. Só havia encontrado sua essência pois estava se ligando ao que estava fora de si mesmo, era como se o criador do mundo fosse o mesmo criador dele mesmo.Era.
Correu, molhou os pés, abriu os braços, chorou de novo. Viu de longe a movimentação da praia,cada vez mais se esvaziando. Viu de perto seu coração, cada vez mais cheio e pensou que estava voltando. Voltando a ser ele mesmo.