sexta-feira, julho 30

reciclável

Ela e janela
Dor e amor
Paixão, razão,emoção e coração
Luz e Cruz,Jesus!

capítulo 1

Toda personagem tem sua história. Toda história tem suas personagens.
Eu vi um casal discutindo no ponto de ônibus, não é aquela história de anos atrás, é só mais uma noite qualquer, mais uma volta pra casa. Ela não tinha mais que uma altura mediana, ele alto, ela tinha uma tatuagem no braço, ele uma costeleta fora de moda, eles tinham um ao outro. Enquanto a menina gesticulava agitadamente ele mais observava, parecia pensar no que fazer, então numa palavra quebrou toda e qualquer argumentação. Ela olhou pra cima, sorriu e emendou um abraço rasgado. Pra mim era o fim do enredo, sem ao menos ter ouvido uma palavra.
Ninguém escreve nada sozinho, num contexto geral ouvimos tanta coisa que isso é o que vamos acabar escrevendo. Vivência é só mais uma palavra rara que usamos todo dia, não falando. Você já reparou que minhas páginas amareladas são as suas brancas, que tudo que rasguei de mim você escreveu? Você reparou que no fim de tudo isso temos os mesmo pontos, mesmas reticências?
...

sábado, julho 24

volta

Não me acostumo em andar no escuro
teu rosto reluz
Não penso em ser metade,
existe a cruz

Eu faço minha volta,
Eu tenho um lar,
Eu faço do meu caminho
O lugar em que tu está.

arca

De tudo que eu queria que virasse verdade você é o maior.
Eu queria e precisava ficar só um tempo, achei um lugar longe, subi algumas escadas e fiquei ali olhando praquele lugar. Em cada canto do campo uma pessoa,algumas juntas, outras não. Qual era o real significado daquele momento?
Em minhas mãos um livro pequeno, em minha cabeça um mundo inteiro, novas idéias e metas, em mim um novo eu. Era tão difícil explicar, como será que é um cego que vê pela primeira vez? Antes as cores eram alguma ilusão sem sentido e agora tão nítidas, quase palpáveis. Antes a vida era alguma ilusão, e agora tão real.
Sempre imaginei esse momento como uma estrada, terra e poeira como as da minha infância. Escolhi um lado e caminhei, primeiros passos lentos e trôpegos, primeiras dúvidas. O crescimento só existe quando saio das minhas certezas, desequilíbrio. Copas tapam o sol, não dá pra ver nada, eu só ando. Se andar é o que me faz chegar mais perto do que quero, eu ando.

sexta-feira, julho 23

tem seu fim

Essa música combina tanto comigo que nem gosto de ouvir.
Quando eu tirei os óculos não pensei que eu veria um mundo tão diferente, porém foi meu jeito de brincar de ser feliz. Cada dia é uma nova descoberta, de uma forma tão intensa que me descubro livre, posso escolher o que ser, do que gostar e posso escolher gostar de ser algo ou mesmo alguém.
O sol sempre morre, quando enegrece o céu sabemos de quase tudo que queríamos saber.
Pensando bem eu nunca realmente achei que era verdade, mas é tudo tão confuso, tão confuso quanto isso aqui. Em fevereiro, março talvez, eu sempre viajei, e gostava de ver a cidade ficando pra trás, gostava mais ainda quando chovia, chuva sempre me pareceu com despedidas, era o clima dos momentos. Todo ano era igual, uma curva completa semestral, e no fim eu acho que na verdade nada nunca mudara.

quinta-feira, julho 15

confábulo

-bem, sabíamos que hora ou outra isso ia ter de mudar.
-mas não assim
-as coisas não precisam ter forma, só mensagem
-pra você as coisas sempre são assim
-assim como?
-você sempre achou que arte tem que objetivar alguma coisa
-mas eu nem estou falando de arte, só de vida
-você já reparou que algumas mudanças não influenciam tanto assim no contexto geral
-discordo
-você sempre discorda
-mas é que nesse caso não como concordar
-não?
-Não!somos mudança, sabe a história do rio?
-Da viagem?
-Não esse Rio, aquela história do rio, que tá sempre passando
-um mesmo rio não passa duas vezes no mesmo lugar?
-isso
-essa frase não é sua né?
-não, mas como eu dizia,hoje eu faço escolhas, essas escolhas mudam o cenário pra que eu faça as escolhas amanhã
-sabe, na verdade eu não vejo o rio nisso
-mesmo que nós estejamos nos mesmos plano de fundo a imagem vai ser diferente
-você gosta de complicar as coisas
-lembra dos nossos amigos antigos, se a gente se encontrasse com eles hoje e tentasse manter o mesmo convívio de anos atrás a gente não ia conseguir
-todos nós somos outros
-ai que tá a mudança, toda essa dinâmica é o que nos faz hoje
-e se eu decido não mudar?
-bem, ai é uma escolha sua
-e ai?
-E ai que você vai mudar mesmo assim, não tem como ficar estático, você vai continuar recebendo informações e dialogando com elas, criando uma nova você
-As vezes eu penso que mesmo mudando,algumas coisas não mudam nunca
-O quê?
-Nós
-Eu acho que a gente mudou bastante
-Mas juntos
-Sim, é como se fossemos duas estradas com as mesmas curvas,somos diferentes,mas estamos ficando cada vez mais iguais
-Você adora criar imagens pra tudo né?
-Mas olha, é isso mesmo da estrada, e mais, somos estradas que terminam no mesmo lugar
-Numa praia?
-A que você quiser
-se você vai tá lá pode ser qualquer uma né
-Você vai estar,isso que conta
-A gente complica tudo né
-É estranho
-O que?
-Não é que a gente complica,é que juntos o que é bem simples pode durar pra sempre que eu vou tá bem
-Até uma conversa sobre mudanças?
-Principalmente uma conversa sobre mudanças.

Então Gabriela desceu da escada que João segurava enquanto ela mudava o quadro da sala.

terça-feira, julho 13

danças

continuar

Sambei contigo tantas notas assim
Já faz quase ou mais de ano que a dor nos fez um
Passei tantas horas sozinho ao seu lado
E amor foi bem mais do que era antes

O silencio é o que toca agora
O telefone nao toca mais
As tardes sao sem voce
E eu gosto assim.

Mas só vim aqui pra dizer adeus

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mesa pra dois

A gente é só mais um,essa história de um ponto só
Eu nao quis assim,mas a distancia nos faz
Era pra ser assim,e a gente sabe tudo que precisava saber
Liguei pra voce e nao atendeu
Ocupado com meu tédio eu nao quis

E agora que será?
O futuro dança na nossa frente
Um baile a dois?
Quem saberia ser.

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textos antigos de todas postagens de hoje,creio que 2007,2008.

luta

Não és forte?Cansastes de brincar com teus medos?
É,a gente foge de tudo.É a gente que se faz de mudo.E a gente que nem ao menos sabemos ser quem somos.
Brincadeiras a parte,é só uma brincadeira de fingir.
Meu esconde-esconde,escondo minha vida.

estas e outras dessas

80 Motivos



Sem motivo procurei achar seus motivos, quis um deus que minha razão ocupasse meus ares de emoção, e quis que meu choro esperasse.A volta não existe num caminho de mão única,andar na contramão sempre dói muito mais,e minhas tentativas frustradas foram o empirismo nesse horizonte coberto por nuvens e descoberto distante. Transformastes minha alegria numa caixa esquecida na estante caindo aos poucos, os motivos se escondem com medo de morrer, e agora nem amizade restou e nosso sangue é tão diferente. Agora resta só meu sangue, bombeado com a força desse vendaval. Agora meu pulso lembra a cada momento que o passado sempre volta pra nós.

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Anjo



Fez-se vergonha,fruto da inocência operante no coração.Não que arrependimento fosse sua palavra,decepção talvez o fosse,ou quem sabe o desprezo de ter fingido pra si mesmo uma nova história de vida,fingia um futuro,sorria o presente e ignorava o passado ausente,e muito embora todos os fatos lhe apontassem que o caminho não era o seu,seguiu.Ao ignorar as placas tão presentes em suas neocorticais não chorava,nem ao menos esboçava reação,afinal não reagiu mesmo que todos seus atos fossem simplesmente mal-acompanhados.Mesmo que cada mão estendida não recebesse muito.
Até mesmo chegou a sonhar.Pobre anjo,mal sabe que anjos não sonham!

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adeus

só hoje eu percebi...aquela vida já passou tem muito tempo,e durante todo esse tempo eu continuei vivendo ela...os mesmos sonhos,os mesmos passos,as mesmas pessoas,os mesmos erros.Hoje eu posso dizer que consertei muitas das minhas escolhas erradas, e talvez tenha até me perdoado por não ser a pessoa que achava ser.Só hoje eu percebi que eram outros meus defeitos,percebi que continuei no passado,e quem sabe no dia que eu viver o presente, e até o futuro, eu possa calar essa solidão,hoje eu não sei "quando foi que eu deixei o silencio tomar conta de mim",mas pelo menos sei que quem deixou foi eu mesmo.

tento viver

domingo, julho 11

Todos meus dias

Estava começando a anoitecer, ela ainda não havia falado nada. O círculo que a cercava aumentara no decorrer dessas três horas, as palavras continuavam mudas. Eu tinha certeza de que ela queria dividir com todos a dor, mas ainda não conseguia. Quando o sol finalmente dormiu, num fim de tarde de verão, ela abaixou a cabeça e chorou. O clima não era um dia chuvoso e triste como nos filmes, ao contrário, era uma noite de calor, dessas que o vento convida a gente pra passear na praia e sentar pra ver a lua. Parecia óbvio que o dia dela não combinava com nada disso. Você não sabe que tudo vai acabar bem?

Eram três da tarde quando me ligaram, ele preferiu não ligar pra família e pediu pra mim. Nunca entendi muito bem, mas de vez em quando acham que sou uma pessoa melhor pra esse tipo de coisa, eu liguei.

-Alô, boa tarde, a Sra. Camila?( boa tarde?boa tarde?)
- Sou eu, quem é? (como se ela já não imaginasse)
- É do hospital, você poderia vir até aqui? ( não era preciso dizer mais nada)
- O quê aconteceu? (ela já sabia)
- Só me pediram pra eu chamar a família no hospital ( por favor, não me obrigue a falar mais nada)
-...( ela não conseguia falar mais nada)

Avisei o segurança pra deixá-los entrar, foi o que aconteceu quando ela veio correndo e passou sem nem dizer palavra alguma. Era alta, na verdade era bonita, mas não era o tipo de coisa que eu ia reparar naquela hora. Pode parecer bobeira, até certa imaturidade, mas algumas vezes essas coisas são doloridas pra gente também. Ela não podia ainda entrar na UTI, eu tive que entrar, e enquanto digitava a senha ela me olhou, eu desviei, quando sai carregando a papelada ela ainda estava ali. Não me deixe pra baixo.

Eu tinha bastante coisa para fazer, mesmo pra um domingo. Com algumas guias nas mãos tentei me distrair, liguei pra um ou dois convênios, resolvi um ou dois problemas que não eram meus e quando já estava quase alheio vi a porta abrindo. Ela não estava só, haviam chegado pais, irmãos, primos, amigos, se não me engano 17 pessoas desceram até o saguão principal, 16 choravam, ela não. Deixa estar.

Durante todo esse tempo ela só olhava para cima, algumas vezes pra baixo, balbuciava algumas coisas, olhava pro brilho em sua mão direita. Uma hora uma das pessoas se ajoelhou na frente dela, alguns segundos se passaram só com olhares, então um abraço, forte, demorado, doloroso. Como será que é ver alguns sonhos simplesmente não mais existirem?
Ela tem 27, ele tinha 28. Ela tem uma vida pela frente, ele tinha leucemia. Fizeram alguns planos juntos, descobriram que era melhor planejar a vida assim, a dois. Viajaram, descobriram tanta coisa quando se descobriram, mas agora era tudo tão escuro. Todos os versos que haviam sido seu cotidiano até ali não iam mais estar. Sabe, eu sempre achei que as pessoas não morriam, por um tempo duvidei de mim mesmo, mas hoje eu tenho certeza disso, por mais que ela não possa mais abraça-lo ele vai estar ali. Não falo de presença sobrenatural, simplesmente de marcas, palavras e canções, ainda que a vida siga adiante ela ainda vai lembrar dele e de como ele a fez crescer quando olhar aquelas fotos antigas, ela ainda vai recitar o poema que ele fez num dia qualquer no parque, ela vai cantar as músicas que ele gostava e de repente pegar uma música triste e torna-la melhor.
Mesmo que não possa mais segurar na mão dele, ele vai estar com ela através de tudo o que ensinou. Foi por isso que ela chorou, era estranho mas ela estava feliz e agradecida, mesmo com toda dor era impossível não pensar que viveu um amor real. A vida vai ter novas histórias pra ela, algumas alegres, outras tristes que também fazem parte, mas sempre haverá um marca-páginas nesse capítulo.
Era noite, mas ai vem o sol.

quinta-feira, julho 8

praia do forte

...se não for pra ser diferente era melhor nem ter tentado.

Ele contou os passos, e nem percebeu que o tempo estava passando. Sem querer parou pra pensar em algo que não pensava a muito tempo,ele mesmo. Definitivamente não se sentia bem sendo quem era hoje.
Sentou. Ao fundo passava um navio, nada belo. Mas reparou bem na paisagem, não era deserta, volta e meia passava um andante mas nada importavam pra paisagem.Era fim da tarde,não podia ficar muito ali,estava a alguns quilômetros de casa e a noite já vinha chegando,mas algo o prendia naquele lugar, alguma espécie de sensação de eternidade, era como se nada mais importasse.
Era estranho pensar que só podia estar naquele momento sendo completo pois não estava pensando apenas nele.Chorou.Quanto tempo não chorava?Quanto tempo não sentia nada?
Tempos atrás tinha resolvido não pensar, só viver.Fechou os olhos e sentiu o vento bater, acelerou o carro, mudou de hábitos, mudou seu jeito de ser, e deixou de ser ele. Na verdade sempre se sentiu meio preso, sabia que ali não era o seu lugar, então tentou voar, subiu algumas escadas, se sentiu alto e então abriu os braços. Não voou. Andou mais, achou um mirante, de lá olhou o futuro. Mesmo assim continuou a não voar. Continuou de olhos fechados e tentou dar passos assim mesmo, perplexo viu que as feridas antigas doíam mais ainda que antes, continuou.
Hoje só estava ali, só. Quis andar e andou demais. Percebeu que não estava só. Olhou o céu, olhou o mar, olhou em seus olhos e viu mais. Falou com o pai, haviam passados muitas estações desde a última vez, ajoelhou-se e gritou. Algumas gaivotas voaram, mas não pra longe, chegaram mais perto como se quisessem que ele visse ainda mais. Abriu os olhos. Olhou o céu,olhou o mar, olhou em si mesmo a obra de Deus.Então viu a chuva passar.
Voltou caminhando, olhou os passos no chão, lembrou de uma velha história que agora fez muito sentido. Só havia encontrado sua essência pois estava se ligando ao que estava fora de si mesmo, era como se o criador do mundo fosse o mesmo criador dele mesmo.Era.
Correu, molhou os pés, abriu os braços, chorou de novo. Viu de longe a movimentação da praia,cada vez mais se esvaziando. Viu de perto seu coração, cada vez mais cheio e pensou que estava voltando. Voltando a ser ele mesmo.