domingo, dezembro 12

Essa não tem nome

Café amargo, acaba com minhas manhãs. Chega um momento que eu nem sinto mais, engulo o líquido a seco, com pressa de que o dia que mal começou chegue ao fim antes de eu perceber, antes de acordar.

Abotoo a camisa sem nem passar, amarro a gravata com uma força que me faça desmaiar. Bato os sapatos com medo das aranhas, piso os cadarços fechados. Eu poderia ser alguém, eu poderia ser quem eu sei que sou, mas prefiro assim, fazer parte do que me aparta.

Minha cama diz adeus, no meio da bagunça em que a deixei se revira e dorme mais que eu. E eu durmo o dia todo. Música alta, antiga e aprovável. Eu prefiro ir andando nos dias de chuva, já falei várias vezes antes da minha predileção por dias nublados. Minhas gafas quebraram, melhor assim: não enxergar.

Lá as pessoas viraram letras e números, nunca as ouço, mas sempre olho suas contas, fechadas a dez vezes do meu salário. Não grito com ninguém, não brigo por não ter força pra isso, aceito compraz e gentil. Transijo a culpa dos outros por não ter ânimo pra arranca-tocos.

À vista de uma senhora muda eu discorro as necessidades de quem ganha com tudo isso, ela me olha com dó, e tá ali, no fim da vida. E eu que tenho a vida toda pra ganhar e só perco tempo? Eu não me sinto bem. Todo mundo já percebeu, mandaram falar com a assistente social, e eu falei de Frankl e Fromm pra ela, que gostou e disse que ia pesquisar mais sobre o assunto.

Aprendi a conhecer esses corredores, aprendi a andar pelos degraus que ninguém vai, aprendi a encarar os fantasmas sem medo, tem hora que até penso em chamar eles pra comer um misto-quente comigo no lanche da tarde, mas nem tenho tempo pra isso. 15 minutos, corridos do tempo que eu consigo. Odeio também os dias sem nada pra fazer, ai eu aproveito as pessoas, converso sem motivos, e de repente calo. É que bate o vento.

Vou embora, e penso em dormir.