quinta-feira, agosto 26

cidade baixa

Quando eu quis mudar o mundo, quando eu achei que é possível fazer diferente.
Não tem nexo, não consigo aceitar que nós aceitemos tudo aquilo que incomoda assim, inertes.
Olhei da janela do carro, aqui dentro o clima controlado, uma música tocava, a trilha sonora perfeita pra minha hipocrisia. A cena não dura mais do que alguns segundos, assim como todas as vezes não me comove, é tudo sempre igual. Quando será possível entender que resignação é diferente de compaixão?
Do lado de fora um garoto correndo por entre os automóveis, quase atropelado, pés descalços, fome. Se eu tivesse alguma bolacha eu daria pra ele, e continuaria sem fazer diferença. A questão não está nas minhas ações, está no que eu realmente sinto quando vejo gente precisando de algo, sentir-me culpado não vai mudar a história de ninguém.
Nos outros carros cheio de gente vazias de tudo eu via uma parte daquilo que tento mudar. O que eu vejo? Nada mais do que pessoas apressadas, pra ir trabalhar, pra ir pra casa, pra ir pra igreja. Enquanto eu canto, o mundo morre.