quarta-feira, novembro 6

Resta Um

Sentir-se ridículo, incapaz de tomar as próprias decisões, e mesmo assim gostar.
Pisoteio o céu azul sem que eu possa deixar de lançar um sorriso, sigo abobado enquanto desalmo sua pele macia e branca. Meus cabelos presos aos seus, sem nem tentar ao menos  desabotoar os sonhos grudados.
Se eu for embora, abra a primeira gaveta, e, antes que eu voe longe, releia todas as nossas cartas de paixão adolescente. Reacendendo o que nunca deveria ter apagado, eu tento te convencer que a gente vale a pena, e retorno a ser apenas seu namorado. Aquele do cabelo grande e que ainda sabia gargalhar minhas próprias piadas. Aquele que ainda não tinha se tomado pelo próprio cinismo, ranzinza.
Cabe em nós um atlântico de sentimentos desiguais. Quando eu te cobria de amor, você desesperada. Quando você voltou, eu não disse nada. E se o tempo passou, levou a gente junto, juntos, banhados no rio lamacento de esperanças. Somos enseada.


No meu quarto eu tenho uma parede que eu chamo de poluição visual. Escrevo o que eu quiser lá, boto as fotos que eu quiser, rabisco o que não quero mais. Tem seu nome escrito bem no meio, não é a única paixão que coloquei ali, mas deve ser a última. Lá tem aquela foto do pés desengonçados, a bailarina gorda. E tem você.